sexta-feira, 4 de abril de 2008

A ética ficou na escola



Eu, como estudante de Jornalismo, sempre que posso visito o “Observatório da Imprensa”, para tentar criar uma visão mais crítica sobre o jornalismo e os jornais. Na visita de hoje li algo que aguçou a minha vontade de escrever sobre o caso da menina Isabella Nardoni. A menina, de 5 anos, foi arremessada de uma janela do 6º andar do prédio em que morava o pai, no Carandiru, na noite do último sábado, 29 de março.
A polícia suspeita da possibilidade de a garotinha ter sido arremessada pelo pai (e/ou pela madrasta) da janela do quarto dos irmãos mais novos. Vestígios de sangue, um corte feito na tela de proteção da janela em que Isabella foi arremessada, uma tesoura encontrada no apartamento, gritos ouvidos pelos vizinhos são indícios do possível assassinato da criança. A polícia trabalha no caso e o pai, Alexandre Nardoni e a madrasta, Ana Carolina Trotta, já estão detidos, mesmo não tendo sido provada a culpa do casal.
Mas, vamos voltar ao “Observatório da Imprensa” de hoje. Há uma matéria do jornalista Luiz Antonio Magalhães em que ele critica a atuação da Imprensa nesse caso. Magalhães fala do jornal “ Diário de São Paulo”, em que a matéria de capa dessa terça-feira (1º de abril) tem como título “Pára, pai! Pára, pai!”. A matéria parece ser o veredicto do julgamento, com a culpa do pai sendo atestada. Mas as investigações apenas começaram. É muito cedo para julgar Alexandre Nardoni.
Já li a matéria completa desse jornal. E, entre vários questionamentos que me fiz, um deles falou mais alto. Será que esses jornalistas estudaram ética nos tempos de faculdade? No nosso curso de jornalismo da Ufpi, a gente bate nessa tecla diariamente. Aí eu fico pensando: será se daqui a alguns anos eu e os meus amigos estaremos produzindo esse tipo de notícia? Para onde vai a ética depois que a gente entra no mercado? O Habitus não pode engolir a Ética.
Então eu lembrei da Madeleine McCann. Ela vai ser sempre uma lembrança na minha vida. Os tablóides britânicos tiveram que se retratar com os pais da menina por causa das acusações que fizeram acerca do assassinato desta pelos pais. E ainda pagaram uma indenização de 1,1 milhão de dólares, para o fundo criado pelos McCann para encontrar Madeleine, como forma de compensação pelos diversos artigos publicados sobre eles nas páginas dos jornais.
Se Alexandre for considerado inocente ao fim das investigações tem todo o direito de ouvir um pedido de desculpas. E se eu fosse advogada dele, pediria uma indenização exorbitante, eu faria o jornal pagar caro por sair por aí o acusando de matar a própria filha. Quem fala o que quer, paga o que não quer. Não é essa a lei do capitalismo?
E, para terminar essa “divagação” peço licença para transcrever o último parágrafo do jornalista Luiz Antonio Magalhães. “Se o pai for de fato culpado, será punido ao fim da investigação. Se for inocente, já está punido”.

6 comentários:

Lara disse...

Cecé, eu só lembrei do caso da Madeleine quando vi a história da Isabella. Coisa pior é o que as emissoras de Tv tão fazendo, metade dos noticiários falam do caso, especulam, perseguem a mãe da menina. :\ Os pais mais uma vez são acusados, a opinião pública já os condenou, e o resultado, se sair, será obscuro (porque tragédia vende, né). Não sei se eles são culpados ou não, nem vou expressar minha opinião aqui, mas concordo que a ética tá ausente aí. Espero que não nos tornemos isso no futuro (o que se acontecer, não será por convicção própria, e sim cumprindo ordens, eu acho).
Beijo, neném ;*

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Celina, gostei do que li; divulgar a materia sem emitir opinião, essa é a missão do jornalista, noticia deve ser divulgada como de fato ela é, no caso especifico acho q a imprensa esta exagerando, pois a tragedia acontecida nessa familia comoveu a todos, todos esperam a solução do caso e tudo que é divulgado tá "vendendo". Eu que convivo com crianças deste a minha infancia, apenas como tia,não consigo entender como alguém é capaz de fazer mal a pequenos tão indefesos que vêm em nós, adultos, parentes ou não protenção e amparo. Espero sinceramente que o pai ou a madastra, não sejam culpados, seria cruel demais, apesar de convivermos com crueldades inimaginaveis.
Beijos, tia célia

Ceres disse...

celininha, more!
bm adorei o que li...
sinceramente, a mídia sempre culpa gente sem saber realmente se os acusados são na realidade os cupados que têm que pagar pelo crime cometido.
E quandto ao habitus...temos que lutar pra que essa mecanização da rotina de produção dentro do jornal não vire um vício e acabe tomando de conta das redações.
bjo!

Jorge André disse...

realmente, celina, parte da imprensa tah condenando antes de ver o desfecho do caso, ou ao menos ter provas suficientes. mas um efeito jah se conseguiu: hj, o caso isabella nardoni eh pauta em mtas discussões da sociedade, em seus vários aspectos. agenda-setting rules!

Lay disse...

Exatamente!Eu também acho que precisamos ter cautela ao publicar uma notícia. Ainda mais quando se trata de um caso desses.

bjos, Celina. Continua atualizando!