sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Esqueci de colocar no post anterior o endereço do blog do verdadeiro João Estrella, taí
http://www.meunomenaoejohnnyfilme.com.br/blogjoao/ ele escreve coisas bem legais... e comungamos de algumas idéias! Amigos, passem lá!
Beijos e até a próxima, que será breve, prometo!

A SIMPATIA DO ANTI-HERÓI


Ontem eu fui assistir “Meu nome não é Johnny”. O filme é excelente. É a indústria cinematográfica brasileira mostrando que é capaz de concorrer com as grandes produções hollywoodianas. A atuação do Selton Mello é brilhante, a da Cléo Pires nem tanto – pra falar a verdade ela me pareceu muito a Lurdinha da “América”.
Baseado em fatos reais, o filme se passa no Rio de Janeiro dos anos 90. Mas podia estar acontecendo ontem. Um jovem que tinha tudo pra “dar certo”, se envolve com drogas e acaba passando de consumidor a traficante. Carismático e cheio de amigos, João Estrella é denunciado e acaba indo pra cadeia.
É aí que começa o seu calvário. Quando eu digo que o filme pode estar acontecendo nesse exato momento eu não minto. A prisão em que João fica é mais do que superlotada. Para conseguir um canto pra ficar ele tem que sair pulando para se desviar dos outros detentos, que estão deitados no chão. A vista grossa da polícia também está presente. Os companheiros de prisão de João quase matam um dos detentos a pauladas e a atitude dos policiais é sair do local onde ocorre a agressão pra não se comprometer, é o popular “vista grossa”. Além disso, o carcereiro recebe “um por fora” – a famosa propina – para trazer lanches da McDonald´s e proporcionar visitas intimas aos detentos que possam pagar “400pratas” por isso. Um brinde ao sistema penitenciário brasileiro! * Lembrei do Zé Simão: Viva o Colírio Alucinógeno!
Mas a juíza mão de ferro – mas nem tanto – acaba representando um alento no meio de tanta corrupção. Tem todo o esquema do tribunal e dias de sessões para julgar o traficante. Ele nega que a droga encontrada em um apartamento seja dele, mas depois – quando seus amigos são quase condenados – ele assume que era o traficante. Um herói, assume sua culpa para salvar os amigos. Um herói, faz um discurso de arrependimento emocionante – que quase me leva ás lágrimas – dizendo que não queria que a sua mãe o visse naquela situação. O seu discurso é o que o salva. Mexe com o emocional da juíza e faz com que ela o encaminhe a um Hospital Penitenciário.
Quando eu vi aquele “hospital” eu R-E-A-L-M-E-N-T-E me perguntei se aquilo ainda poderia existir. Parecia mais um “lixeira humana”. Lembrei da “milha”, a prisão do filme “À espera de um milagre”, que se passa há muitos anos atrás. Muito engraçado quando João diz que está num hospício. Era realmente um hospício, uma miséria humana. Mas é o “hospital-buraco” que o salva. Ou melhor, o que o salva é ele mesmo, porque ali era só um lugar pra ele refletir.
O bom do filme é que o final não é triste. Eu pensei que fosse. Tava até esperando o João ser assassinado na cadeia ou na “lixeira”. Mas ao contrario disso ele deixa o vício e vira produtor musical, é vivo até hoje e fez até uma participação especial no filme.
Só teve uma coisa que me deixou encabulada. Porque que todo herói brasileiro tem que ter um quê macunaímico? Herói sem caráter? Já vi esse filme antes... Acho que o João é parente do Capitão Nascimento. Um herói sem escrúpulos que acaba cativando o público. Ele até pediu pra sair (do mundo das drogas). Eu sei que todo ser humano tem defeitos e qualidades. Mas vamos humanizar menos e retratar mais. Se bem que o João Estrella da “vida real” disse que o filme é bem a realidade, o que aconteceu, como ele era.
Gente, e a criatividade? Vamos fazer um herói bonzinho! Não precisa ser 100% do bem, mas... Por favor, um traficante tão simpático, engraçado, com cara de gente do bem, não dá. Engraçado que ele se droga além da conta e fica normal, nunca parece agressivo ou zangado. Não mostram uma cena dele com cara de drogado, olheiras, quebrando tudo, gritando. As drogas parecem não afeta-lo. O rosto dele antes e depois de usar drogas é sempre o mesmo. Eu senti até vontade de abraçá-lo quando ele estava passeando com os amigos pelo Rio de Janeiro depois de sair do hospício. O Selton Mello arrasou como traficante com aqueles seus trejeitos. Mas aquele cabelinho de anjo parece o do Emanuel – o anjo que ele representou na novela “A Indomada”.
No mais o filme é ótimo. E não tem cenas de sexo, nem tanto palavrão – uma vez que o ambiente em que ocorre é, usando esteriótipo, é regado a um vocabulário bastante chulo. Com tiradas de humor e a cômica atuação do Luís Miranda, é uma boa dica de filme para o fim de semana.