domingo, 30 de setembro de 2007

Até quando?


Quinta-feira fui ao hospital Getúlio Vargas, o famoso HGV. Não por necessidade extrema, mas por vontade de conhecer aquela realidade tão distante de mim - era como eu pensava até ir lá. Distante. Moro em Teresina desde que nasci, sempre ouvi histórias sobre o hospital, mas nunca imaginei um realidade tão cruel. Saí do hospital com uma pergunta na cabeça: o que o Estado faz com seus enfermos? Depois refleti longamente sobre a questão e vi que a saúde pública não é um problema só do Estado, mas de todos nós cidadãos, que votamos, que temos direitos e deveres com a nossa sociedade. É um hospital grande, com estrutura para receber pessoas do Piauí, Maranhão, Pará, Tocantins e até da Bahia. Doentes em busca da cura. Uma cura que pode demorar dias, semanas, meses...ou pode não vir nunca.
Os corredores estão lotados de doentes, porque as enfermarias também já ultrapassaram a demanda de pessoas. Gente que sente dor de cabeça e vai ao hospital só para tomar um remédio porque não tem condições de comprar misturada à pessoas com início de infarto, com pernas quebradas, doenças no fígado... A estrutura humana é até satisfatória - conforme relatou o estudante de medicina que faz parte do corpo de alunos do regime de internato - o que precisa ser melhorada é a estrutura física. Há muitos médicos e estudantes preparados para tratar das pessoas que necessitam de serviços médicos, o que falta é lugar para abrigar tanta gente. Mas não é só isso o que falta ao HGV. Falta ética de alguns profissionais que pedem dinheiro aos pacientes para arrumar-lhes macas, exames, cirurgias - quando na verdade todos os procedimentos médicos são pagos pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. Ou facilitam a internação de alguns doentes em troca de votos. Falta também remunerar melhor esses profissionais para que eles não precisem recorrer à esses meios.E falta, principalmente, um pouco de vergonha na cara dessas pessoas, porque pedir dinheiro - de quem não tem nem para comprar um remédio que lhe cure o mal - para "ajeitar" os doentes e agilizar seu atendimento é, no mínimo, imoral.
O que eu vi, e que me orgulhou muito, é que, apesar da relativa falta de boas condições de trabalho, alguns médicos cumprem com afinco os mandamentos da profissão. Foi um alento.

sábado, 29 de setembro de 2007

Haja colírio alucinógeno



O que nos choca mais, filhos matar pais ou pais matarem filhos? Em outubro de 2002, Suzane von Richtofem , na época com 19 anos, planejou minuciosamente o assassinato dos pais. O motivo: eles não aprovaram seu namoro com Daniel de Paula e Silva. Em maio de 2007, Kate e Gerry McCann possivelmente assassinaram e ocultaram o corpo da filha de 3 anos, Madeleine McCann. O motivo: desejavam jantar sossegadamente com amigos ingleses.
O casal de médicos ingleses (Gerry é cardiologista e Kate é clínica geral), de férias em Portugal, é apontado como suspeito de matar acidentalmente a menina – através da ingestão em excesso de sedativos para dopar a criança e os irmãos de 2 anos – e esconder o corpo, uma vez que a autopsia acusaria superdosagem. Preocupados com a reputação – matar a própria filha, mesmo que acidentalmente, além de cruel é hediondo – e com a punição – na Inglaterra há pena de morte – os McCann se fizeram vítima do “seqüestro” da bela loirinha.
Suzane parecia chocada com a morte dos pais, chorou no enterro e foi consolada pelo namorado. Dias depois, acuada, confessou seu crime. A justificativa: “Matei por amor!”. Amor ao namorado, obviamente. Amor aos pais – que a criaram dando tudo que queria (talvez esse tenha sido o erro) – ela foi incapaz de dedicar, ao contrário, pelos pais ela não sentiu sequer compaixão.
A frieza de Suzane na reconstituição do crime chocou até a polícia, que é acostumada com todos os tipos de crime. A garota, bela e rica, parecia não se dar conta da gravidade do crime que cometera, não derramou uma lágrima ou demonstrou qualquer tipo de emoção. Kate McCann também não derramou uma lágrima, não demonstrou qualquer tipo de emoção ou descontrole diante do sumiço da filha ( será por causa da polidez britânica?) e em seu diário pessoal ela relata o quão aborrecedora era a tarefa de cuidar dos filhos, os quais batalhou para ter – os filhos do casal nasceram de reprodução assistida.
O caso de Suzane rendeu quilos de processo, dividiu opiniões acerca de sua pena e da adoção da pena de morte no Brasil, populares tentaram linchá-la. Agora ela quer cobrar indenização pelos maus tratos que sofre na prisão. E o maior de todos os maus tratos que ela cometeu? Como ela era bem tratada pelos pais, e mesmo assim acabou matando-os.
O possível seqüestro de Madeleine movimentou o mundo, quase 2 milhões de euros foram doados para ajudar nas buscas. Personalidades inglesas fizeram campanha para encontrar a garotinha. Poderia o casal McCann ter promovido toda essa movimentação para desviar de si o foco das atenções? É muita insanidade!
Suzane cometeu um crime inacreditável. Kate possivelmente cometeu um crime inimaginável. Como pode uma mãe recorrer à ciência para ter filhos aos quais ele não conseguiria amar? Ele quis tê-los e lutou para isso! Como alguém, por mais endurecido que seja, seria capaz de fazer mal a uma criança tão pura?
Como diria o jornalista José Simão, eu preciso pingar meu colírio alucinógeno para acreditar em tudo isso.